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Plano de contingência do governo busca mitigar efeitos do tarifaço dos EUA sobre exportações brasileiras
18 de agosto de 2025 |

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18 de agosto de 2025 |
O anúncio das tarifas de 50% aplicadas pelo governo dos Estados Unidos a quase dois mil produtos brasileiros desencadeou uma reação imediata em Brasília. Para evitar que setores estratégicos da economia sofram perdas irreversíveis, o Governo Federal lançou o Plano Brasil Soberano.
Ele é um pacote emergencial de medidas econômicas voltado a empresas exportadoras. O programa prevê crédito, isenções tributárias, diferimento de impostos e estímulos a novos mercados.
Embora a proposta sinalize apoio ao setor produtivo, grande parte das ações ainda depende de regulamentação. Neste artigo, reunimos os principais pontos do plano, seus desafios de implementação e os impactos esperados no curto e médio prazo.
Desde 6 de agosto, o tarifaço norte-americano entrou em vigor, elevando para 50% a alíquota de importação de milhares de produtos brasileiros. Levantamento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) mostra que a sobretaxa atinge 35,9% das exportações brasileiras aos EUA.
Apesar de setores como aviões, celulose, petróleo, minério de ferro e suco de laranja terem ficado de fora, os segmentos de alimentos perecíveis, pequenas manufaturas e parte do agronegócio foram diretamente impactados.
Isso compromete especialmente as pequenas e médias empresas, que têm menor margem de resistência e enfrentam dificuldades para redirecionar mercadorias para outros mercados.
O Plano é dividido em segmentos. Veja os principais:
Crédito emergencial de R$ 30 bilhões
O Governo Federal anunciou uma linha de crédito extraordinário de R$ 30 bilhões destinada a exportadores prejudicados. O acesso será garantido pelo Fundo Garantidor de Exportações (FGE) e exigirá manutenção dos empregos.
No entanto, o dinheiro ainda não está disponível. Falta aprovação do Conselho Monetário Nacional (CMN) e adequação operacional dos bancos.
Seguro à exportação
Empresas poderão contar com instrumentos de proteção contra riscos como inadimplência ou cancelamento de contratos. Para isso, o Governo fará aportes em fundos garantidores, fora das metas fiscais. A medida aguarda definição de diretrizes pela Câmara de Comércio Exterior (Camex).
Diferimento de tributos
A Receita Federal foi autorizada a adiar por dois meses o recolhimento de impostos federais das empresas mais atingidas. Esse alívio de caixa já foi utilizado em situações de crise, como durante a pandemia, e deverá ser regulamentado por ato normativo da Fazenda.
Prorrogação do drawback
O regime de drawback, que suspende ou isenta tributos sobre insumos usados em mercadorias exportadas, teve o prazo de utilização estendido por mais um ano. Essa é uma das poucas medidas já em vigor desde a publicação da Medida Provisória.
Novo Reintegra
Foi anunciada a criação de um crédito tributário para exportadores, que permitirá abater valores de impostos futuros. Médias e grandes empresas terão direito a até 3,1%, enquanto micro e pequenas poderão chegar a 6%. Para entrar em vigor, o mecanismo precisa de aprovação legislativa.
Compras públicas
União, estados e municípios poderão comprar diretamente produtos afetados pelas tarifas para abastecer hospitais, escolas e programas de alimentação. O governo já anunciou R$ 2,4 bilhões em compras pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Diversificação de mercados
O Itamaraty e os adidos agrícolas foram mobilizados para abrir novos canais de exportação. A estratégia é reduzir a dependência do mercado norte-americano, fortalecendo relações comerciais com Ásia, Europa e América Latina.
Apesar do caráter abrangente, muitas medidas ainda estão em fase de promessa. Linhas de crédito e seguros dependem de regulamentação, enquanto incentivos tributários necessitam de aprovação legislativa.
O desafio imediato é transformar os anúncios em recursos concretos para empresas que já enfrentam cancelamentos de contratos e custos logísticos elevados.
Outro ponto sensível é o impacto fiscal. A União projeta renúncia de R$ 5 bilhões em arrecadação até 2026 apenas com o Novo Reintegra.
Além disso, a expansão de compras públicas e aportes em fundos garantidores exigem recursos fora do arcabouço fiscal. A medida é emergencial, mas pressiona as contas públicas num momento de dívida elevada.
De qualquer forma, o governo enfatizou que o foco do plano é apoiar micro e pequenas empresas, além de setores de alimentos perecíveis. A lógica é que grandes grupos têm mais capacidade de absorver prejuízos ou redirecionar produção.
Já negócios de menor porte podem ver toda a operação comprometida por um contrato suspenso. Ao condicionar o acesso ao crédito à manutenção de empregos, o Palácio do Planalto busca preservar postos de trabalho e evitar efeitos em cadeia sobre a renda das famílias. Uma Câmara Nacional de Acompanhamento do Emprego foi instalada para monitorar esse compromisso.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) avaliou positivamente o pacote, destacando que contemplou demandas de diferentes setores. Para o Sindicato da Micro e Pequena Indústria, as ações representam um alívio, mas ainda insuficiente diante das dificuldades de renegociar contratos internacionais.
No mercado financeiro, analistas ressaltam que linhas emergenciais são bem-vindas, mas defendem que os exportadores busquem soluções de financiamento estruturado e diversificação de clientes. O receio é que a incerteza cambial e o risco fiscal aumentem custos de captação, reduzindo a eficácia do pacote.
Enquanto a regulamentação avança, os exportadores buscam alternativas para manter operações ativas, preservar empregos e explorar novos mercados. O sucesso do plano dependerá da rapidez na implementação e da capacidade do país de diversificar parceiros comerciais, reduzindo vulnerabilidades a decisões unilaterais.
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É o pacote de medidas criado pelo Governo Federal para reduzir os impactos das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre as exportações brasileiras.
O governo prometeu liberar R$ 30 bilhões em crédito extraordinário para empresas exportadoras, com garantia do Fundo Garantidor de Exportações.
Não. Grande parte depende de regulamentação pelo Conselho Monetário Nacional, da publicação de normas da Fazenda ou da aprovação de projetos no Congresso.
Micro e pequenas empresas, além de setores de alimentos perecíveis, terão prioridade, segundo o governo.
Sim. O acesso às linhas de crédito estará condicionado à preservação dos postos de trabalho.
O Itamaraty está atuando para diversificar mercados, buscando novos compradores internacionais para produtos sobretaxados.