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Perspectivas econômicas para o segundo semestre de 2025: o que esperar do dólar, da Selic e da inflação
3 de julho de 2025 |

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3 de julho de 2025 |
Com a chegada do segundo semestre, investidores, empresários e consumidores voltam suas atenções para os rumos da economia brasileira. Dólar, inflação, taxa Selic e estabilidade fiscal estão entre os principais pontos de atenção — todos influenciados por fatores internos e externos, que tornam o cenário ainda mais incerto.
O primeiro semestre foi marcado pela já tradicional volatilidade da economia brasileira. Apesar da queda do dólar em relação ao início do ano, os desentendimentos entre o Governo e Congresso, principalmente em relação ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) movimentaram o mercado.
Internacionalmente, o destaque ficou para as idas e vindas do “tarifaço” imposto por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, a diversos países. Inclusive, com a China, as decisões ganharam contornos de guerra comercial.
Para entender melhor o que está em jogo nos próximos meses, conversamos com Bruno Perottoni, nosso diretor de tesouraria no Braza Bank. Ele trouxe uma análise detalhada sobre os principais riscos, tendências e oportunidades que o país deve enfrentar até o fim de 2025.
Segundo Perottoni, o comportamento do dólar no segundo semestre deve ser acompanhado com cautela redobrada. De um lado, o cenário externo traz riscos concretos de instabilidade com os conflitos no Oriente Médio e a possibilidade de elevação nos preços do petróleo.
De outro, o Brasil vive um momento político delicado, com o Governo dividido entre conter gastos e buscar popularidade às vésperas do ano eleitoral.
Internamente, a falta de apoio político, evidenciada por episódios como a derrubada do decreto do IOF, aumenta a desconfiança dos mercados.
Perottoni alerta que a tendência é de maior volatilidade no câmbio, sobretudo se o governo insistir em medidas para aumentar gastos e elevar a arrecadação por meio de novos tributos.
A combinação de juros elevados e incerteza política tem inibido a atividade econômica. Embora alguns setores mostrem recuperação, o cenário geral ainda não é animador. Afinal, a taxa Selic alcançou 15% ao ano, o maior patamar desde 2006.
Segundo o diretor de tesouraria do Braza Bank, os altos custos de capital desestimulam o investimento produtivo e reforçam a migração de recursos para aplicações conservadoras, como a renda fixa.
A insegurança em temas como a reforma tributária e o recente recuo no IOF também contribui para a falta de dinamismo econômico, criando um ambiente de maior cautela entre empresas e consumidores.
Mesmo com a inflação aparentemente “sob controle”, Perottoni destaca que o índice ainda está acima do centro da meta — e não deve ceder com facilidade. Além disso, há fatores de risco no radar, como o preço internacional do petróleo e a situação energética no Brasil.
Outro ponto que merece atenção é o setor de energia no Brasil. Qualquer disfunção ou encarecimento nas tarifas pode impactar o IPCA nos próximos meses.
Com base na curva de juros futuros, o mercado não espera cortes na taxa Selic em 2025. O ciclo de flexibilização monetária pode começar apenas em 2026 — e mesmo assim, com dúvidas sobre a motivação: será uma decisão técnica ou política?
A taxa básica de juros segue como ferramenta central de contenção inflacionária, mas seu patamar elevado restringe o crédito e dificulta a retomada da economia.
O cenário internacional também traz preocupações relevantes. Conflitos armados no Oriente Médio e instabilidade em grandes economias, como os EUA e a China, influenciam os preços das commodities e aumentam a aversão ao risco nos mercados.
A dependência do Brasil de petróleo e derivados para logística e produção agrícola agrava o cenário. Com boa parte da matriz energética e do transporte nacional baseada em combustíveis fósseis, qualquer aumento de preço repercute fortemente na economia doméstica.
Para o diretor do Braza Bank, o maior risco até o fim de 2025 é político. A proximidade do calendário eleitoral de 2026 pode levar o governo a adotar medidas populistas, que pressionam o orçamento e afetam a previsibilidade fiscal.
Quanto às oportunidades, ele é mais contido. A estabilidade só deve vir com responsabilidade fiscal, segurança jurídica e previsibilidade. Sem esses pilares, o ambiente de negócios segue travado.
O segundo semestre de 2025 promete ser desafiador. A combinação de fatores internos — como a fragilidade política e os juros altos — com tensões externas impõe ao Brasil um cenário de cautela. Ainda que haja possibilidade de avanços em setores específicos, o panorama geral depende fortemente das decisões do governo e da evolução do contexto internacional.
Para investidores, empresas e consumidores, o momento pede atenção redobrada, diversificação e foco em ativos mais resilientes. Como destaca Bruno Perottoni, previsibilidade e responsabilidade são palavras-chave para atravessar os próximos meses com mais segurança.
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Temos um cenário externo preocupante (por conta dos conflitos no Oriente Médio), dólar enfraquecido em relação a outras moedas em patamares de 2021, especialmente após as manobras das tarifas de Donald Trump. Uma escalada na guerra pode afetar muito o preço dos combustíveis e espalhar inflação mundo afora.
afirma.
O custo de oportunidade sobe muito e desestimula atividade econômica e investimentos, assim como a incerteza política e jurídica em temas como o IOF.
avalia.
Temos que lembrar que o sob controle que vivemos agora ainda é acima da meta, ou seja, mesmo com juros elevados, não temos uma inflação controlada. Lembrando que podemos ter uma escalada no preço do petróleo, em função de conflitos, o que eleva combustíveis e fertilizantes.
alerta.
Resta também saber se esse ciclo de cortes será técnico, ou seja, em parâmetros econômicos concretos, ou político, orientado pela busca de popularidade e por votos para 2026.
diz Perottoni.
Penso que não há ponto positivo em conflitos. Fala-se que pode melhorar o preço do petróleo, o que é favorável à Petrobras, mas, a meu ver, é só isso. Para a economia como um todo é nocivo. Nossa matriz energética depende do petróleo e derivados.
afirma.
Não se fala em corte de gastos e sim em novas receitas, geralmente oriundas de novos tributos, o que onera o país como um todo.
alerta Perottoni.