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Alta de taxas nos EUA penaliza o Real e outras moedas emergentes; entenda
4 de outubro de 2023 | Bruno Perottoni, CGA
Na última semana vimos um forte movimento, em escala global, de valorização do dólar frente às demais moedas. A cesta de moedas DXY — US Dollar Index — acumula alta de 7,35% desde meados de julho e não parece querer acalmar.
Essa força do dólar deve-se, basicamente, à escalada das taxas dos títulos do Tesouro Americano, que vem renovando máximas atrás de máximas, trabalhando em patamares recordes desde 2007 com títulos de 10 anos operando acima de 4,70%.
Toda essa escalada das taxas tem penalizado as moedas emergentes, e no Brasil não é diferente. Para complicar um pouco mais a situação local, temos ainda os cortes da taxa Selic, realizados e prometidos, e um descompasso entre essa tendência e o que nos mostra a curva de juros futuro.
Desde o primeiro corte de juros anunciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em agosto, as taxas do DI de janeiro de 2029 saltaram da faixa de 10,50% para 11,55%. Isso demonstra uma preocupação do mercado, com investidores querendo mais juros para aplicar no Brasil.
Parte do movimento acompanha a alta dos títulos americanos, parte do movimento explica algumas preocupações com a questão fiscal e com alguns setores da economia aqui que não vão tão bem.
O que vai ditar o início de 2024?
Pelo tom do discurso de alguns membros do Federal Reserve (Fed), novas altas de juros podem ocorrer nos EUA até que haja a convergência da inflação para dentro da meta.
Os dados econômicos que têm sido divulgados mostram uma economia aquecida e, pelo menos na retórica, um FED disposto a usar as armas da política monetária para resolver a situação.
É um movimento complexo que estamos vendo no mercado, com alguns emergentes dispostos a cortar juros quando "o primeiro mundo" está na ponta oposta.
A meu ver, no cenário local, o que vai ditar o início de 2024 serão dados concretos de melhoria na atividade econômica e qual o tom da nova gestão do Banco Central (BC) sobre o final do ciclo de corte dos juros.
Se vamos seguir uma linha técnica, com um comitê independente e apolítico cortando juros até um ponto de equilíbrio; ou se vamos ter uma gestão mais política no BC, forçando cortes de juros abaixo do patamar considerado coerente pelo mercado.
Se olharmos a remuneração dos principais títulos públicos atrelados à inflação, as NTN-B que remuneram IPCA mais um cupom, esse segundo componente, que é o grande atrativo para o investidor, já vem sendo negociado entre 5,8% e 6% conforme o vencimento do título.
Considerando um IPCA na casa de 4,61%, teríamos juros de na casa de 10,50%, o que seria patamar mínimo para a Selic. Forçar uma taxa abaixo disso pode ser bem arriscado para o mercado nessas condições, com sérios impactos no câmbio.